O antigo Matadouro Frigorífico e Industrial de Ponta Delgada, outrora motivo de orgulho para Santa Clara e suas gentes, no seu período áureo, um autêntico símbolo de modernidade e desenvolvimento que proporcionava trabalho e rendimento regular a um muito significativo número de famílias locais, está hoje transformado numa degradante e arruinada estrutura, um espaço que urge requalificar.
Sempre que sou confrontado com questões sobre aquele local, o que, diga-se de passagem, acontece frequentemente, tendo em conta a demanda judicial que se conhece existir para esclarecer a posse da propriedade, quer sobretudo a quantidade e a variedade de “projectos” que para ali se apresentam – “vários cães a um osso” –, confesso, fico como que invadido por uma estranha sensação, um misto de revolta e inquietação, já que enorme vontade em transformar aquele espaço em algo útil para a freguesia de Santa Clara e a impotência para o fazer são directamente proporcionais. Uma coisa é certa, qualquer que seja a utilização para ali pensada deve ir no sentido de favorecer a população da freguesia em primeiro lugar. Santa Clara já foi suficientemente castigada, é já tempo de reverter um conceito que natural e instintivamente parece ter-se apoderado dos decisores políticos; “tudo o que não é desejado noutro local vai para Santa Clara”. Aproveitando para agradecer-lhe pela sua enorme generosidade e muita disponibilidade, pois tem dito sempre SIM quando por nós é solicitado a colaborar, permitam-me usar com alguma liberdade palavras recentes do Arquitecto Soares de Sousa; “é salutar que as entidades deixem de estar de costas voltadas umas para as outras, já que agindo concertadamente os projectos terão com certeza maior qualidade, menores custos, e, acima de tudo, muitas mais possibilidades de servirem os interesses da maioria e não só a de alguns”. Nós estamos a fazer a nossa parte do trabalho. A Junta de Freguesia, com a prestimosa colaboração de uma interessante equipa projecto que inclui três jovens arquitectos da Freguesia (um já a exercer, um a estagiar e um finalista), subordinado ao tema “Participar”, está a levar a efeito um levantamento exaustivo da Freguesia que dedica um especial interesse à orla marítima (a última parcela da orla marítima natural de Ponta Delgada) e que tem como principais “ancoras” exactamente, a Poente; “o Matadouro”, e a Nascente; “o Castelinho”. Já aconteceram as primeiras acções de interacção com a população, já existem os primeiros esquiços. Estamos a fazer o “trabalho de casa”, em breve daremos a conhecer o produto deste trabalho que se deseja o mais participado possível.
Santa Clara não pode esquecer as suas origens, nem a sua umbilical ligação com o mar. A criação de um núcleo museológico que congregasse actividades piscatórias, as actividades industriais com elas relacionadas (outrora a Fábrica Lory foi uma referência na industria conserveira), e outras actividades afins é uma hipótese por nós acarinhada, e seria um modo de reunir os registos de época ainda existentes, que assim, de forma digna, interactiva e moderna, ficavam expostos a todos os que nos visitam, tornando aquele lugar de grande valor turístico para a região.
Mas aquele espaço é enorme, dá para isso e muito mais. Para o que não pode dar, e, embora possa não parecer a Junta de Freguesia não se tem poupado a esforços neste sentido (os últimos dos quais muito recentemente), para o que não pode dar, dizia, é para continuar a ser o antro delinquência, toxicodependência que, por abandono, tem vindo a ser.
in Açoriano Oriental de 20-01-2006.
Este fim-de-semana, estive cá em casa a fazer o presépio. Eu e a minha irmã animámos as hostes, na companhia de uns amigos que vêm passar o Natal connosco. Como resultado final obtivemos, não o presépio inesquecível como o a da Fábrica do Açúcar, mas sim o nosso presépio inesquecível, que nos reavivou algumas memórias enquanto íamos dispondo o farelo, as pedras e os bonecos como fzíamos quando eramos pequenas.
